terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Acesso ao Ensino Superior ... em França


Tenho seguido com interesse o debate em França em torno do acesso ao Ensino Superior.

Na realidade francesa há um exame final do Ensino Secundário muito prestigiado, o Bacalauréat e não há numerus clausus. Para entrar nas ditas "Grandes Escolas" é preciso fazer dois anos de "Classes Especiais" e um exame; quem não consegue ter sucesso no exame não perde tempo pois entra no terceiro ano universitário. Para os cursos de maior procura como Medicina e Informática tem sido feito um sorteio.


Numa entrevista com Gilles Roussel, presidente da Conferência dos presidentes das universidades francesas, e também presidente da Universidade Paris Est Marne-la-Vallée (UPEM), juntamente com dois dos seus vice-presidentes, ficamos a saber sobre o estado atual do Ensino Superior em França que:

1) um terço dos estudantes do primeiro ano de licenciatura abandona os estudos durante o primeiro semestre;

2) todos os estudantes devem ter direito a entrar num curso de sua escolha; se não houver lugares suficientes deve aumentar-se o número de lugares;

3) existe um sistema informático, Parcoursup, cujo objetivo é orientar os candidatos ao Ensino Superior nas suas escolhas;

4) quando um candidato quer ir para um curso onde apresenta deficiências deve primeiro ir fazer um percurso de remediação, recorrendo nomeadamente a cursos em linha como os MOOCs;

5) o exame do bacalaureat não é considerado eficaz e fica muito caro; o contínuo liceu-ensino superior deve ser melhor construído, pois muitos estudante encontram dificuldades na entrada no ensino superior;

6) é preciso melhorar a formação de professores do ensino básico e secundário atualmente realizada nas ESPE (École supérieure du professorat et de l’éducation) sendo necessária mais profissionalização e mais investigação neste percurso;

7) é admissível a criação de um ano propedêutico à entrada no Ensino Superior para aqueles que revelem mais debilidades;

8) as universidades precisam de um financiamento suplementar anual de mil milhões de euros para gerir os percursos dos estudantes e para recuperar o sub-financiamento anterior;

9) a universidade deve oferecer mais percursos tendo em vista a formação profissionalizante e a formação contínua;

10) as universidades francesas estão abertas à criação de consórcios europeus de universidades.

O Ensino Superior em França evidencia muitas dificuldades, como acontece em quase todo o mundo, derivado do facto de ter de responder a públicos cada vez maiores, mais heterogéneos e ao mesmo tempo ter sofrido cortes orçamentais consideráveis.

Se por um lado a não existência de numerus clausus não funciona bem pois na realidade não há vagas suficientes para todos os candidatos que pretendem entrar em certos cursos, o sorteio de vagas não satisfaz ninguém mas não parece haver modo consensual de resolver os problemas (uma parte pelo menos pois as "Grandes Escolas" continuarão com o seu processo altamente seletivo). O sorteio foi abolido legislativamente este mês mas a controvérsia mantém-se, e os estudantes começaram já as manifestações.


Na nova lei os estabelecimentos de ensino superior indicarão se os estudantes inscritos através do Parcoursup têm ou não as "competências e conhecimentos necessários para ser admitidos no curso pretendido". Claro que é uma incógnita se por este método será possível fazer um recrutamento justo, mas a oposição acusa a nova lei de ser uma seleção encapotada, o que tem alguma razão de ser quando a orientação e o aumento do número de vagas depende de constrangimentos financeiras que o Ensino Superior não controla.

Uma realidade a seguir com atenção.

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