O que nos trouxe de novo a disciplina de MACS?
Pela primeira vez nas escolas portuguesas, no ano letivo de 2004/2005, passou a haver mais do que uma disciplina de Matemática.
Os alunos dos cursos Científico-Humanísticos que ingressaram no 10º ano, em 2004/2005, escolhiam uma das seguintes vias: Ciências e Tecnologias, Ciências Socioeconómicas, Línguas e Humanidades e Artes Visuais. Quem optava por Línguas e Humanidades, tinha a possibilidade de ter a disciplina de Matemática Aplicada às Ciências Sociais (MACS), quem optava pelo curso de Artes Visuais podia frequentar a disciplina de Matemática B e quem optava por Ciências e Tecnologias ou Ciências Socioeconómicas tinha Matemática A como disciplina obrigatória.
Pela primeira vez, a Matemática deixou de ser única nas escolas! Havia Matemática A, Matemática B e MACS.
Em meados desse ano letivo de 2004/2005 a curiosidade instalou-se nas escolas. Que matemática se aprendia em MACS? Na Escola Secundária Filipa de Vilhena no Porto, foram os próprios alunos que frequentavam a disciplina que decidiram divulgá-la aos colegas por a considerarem a melhor. Discutiam e argumentavam sobre a pertinência e atualidade dos conteúdos que eram abordados, tendo em vista a preparação dos alunos para exercerem uma cidadania consciente e informada, mas também para o desenvolvimento do seu espírito crítico e de intervenção social. Divulgaram-na aos seus pares do mesmo ano de escolaridade e publicitaram-na aos alunos que frequentavam o 9º ano no sentido de poderem influenciar as suas escolhas
Agora, passados 16 anos, tivemos curiosidade em perceber o que restava num dos ativistas e defensores de MACS na Escola Filipa de Vilhena. Pedimos ao Diogo Faria, que nos expusesse livremente o que ainda pensa da sua passagem pela Matemática Aplicada às Ciências Sociais.
Tive aulas de Matemática Aplicada às Ciências Sociais (MACS) enquanto aluno do curso de Ciências Sociais e Humanas nos anos letivos de 2005/06 e 2006/07. Desde então, licenciei-me, fiz um mestrado e doutorei-me em História. Ao longo deste percurso de vários anos no ensino superior, foram muitas as ocasiões em que os conhecimentos adquiridos em MACS foram de enorme utilidade, nomeadamente para o tratamento e interpretação de dados recolhidos no âmbito de projetos de investigação. No entanto, não foi nesse âmbito mais académico e diretamente ligado à raiz da disciplina – ou seja, no quadro da aplicação de conhecimentos matemáticos ao estudo de ciências sociais – que mais valorizei os conhecimentos obtidos no ensino secundário. É, na verdade, enquanto cidadão que procura manter-se informado sobre o mundo que o rodeia que mais aproveito os benefícios do que aprendi. Saber calcular médias ou identificar modas e medianas será, por si só, obviamente útil, e imagino que isso se possa aprender em qualquer aula de matemática, mas saber interpretar criticamente esses indicadores – uma operação talvez menos ‘automática’, mesmo que não puramente subjetiva – é algo fundamental para a compreensão de muito do que nos rodeia e foi uma coisa que desenvolvi nas aulas de MACS. Conhecer diferentes sistemas eleitorais, perceber os mecanismos que estão por detrás de cada sufrágio, compreender por que é que é diferente a eleição de um Presidente da República da de um deputado ou de um presidente da câmara, e por que é que o que se passa em Portugal é distinto do que acontece em Inglaterra ou nos Estados Unidos, tudo isso é matemática, tudo isso é matemática aplicada à leitura da realidade de todos os dias, tudo isso é relevante para a formação integral de qualquer aluno. Num mundo cada vez mais globalizado, em que as fontes de desinformação são tantas ou até superam as de informação, em que é cada vez mais importante desenvolver mecanismos de avaliação e interpretação do que nos rodeia, tornar transversais uma série de matérias que atualmente estão concentradas na disciplina de MACS só pode ter como resultado a formação de cidadãos mais capazes e, sobretudo, mais críticos.
Será que o Diogo Faria tem razão? É essencial que todos os alunos no Ensino Secundário tenham acesso a esta Matemática abordada em MACS, como a Teoria das Eleições, a Matemática Financeira, a Estatística? Qual a importância da Matemática no Ensino Secundário para a formação dos cidadãos?
Cristina Cruchinho
Escola Secundária Filipa de Vilhena