A Educação Financeira é um tema que tem vindo a ganhar destaque durante a última década. A necessidade de educar financeiramente a população é justificada pelo aumento da complexidade dos produtos financeiros e pelos baixos níveis de Literacia Financeira.
Os primeiros passos foram dados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que na sua reunião do conselho em 2003 incluiu o projeto intitulado Projeto de Educação Financeira que tinha como objetivo propor ações para educar financeiramente a população dos países filiados.
Portugal começou a desenvolver uma estratégia de Educação Financeira e o Banco de Portugal (BdP) foi a entidade a quem foram atribuídas competências específicas de supervisão comportamental tendo, desde 2008, assumido um papel relevante nesta área.
Em 2010 realizou-se um inquérito à Literacia Financeira dos portugueses e no ano seguinte foi criado o Plano Nacional de Formação Financeira (PNFF), pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros, definindo cinco áreas de atuação: os estudantes do ensino básico e secundário, estudantes universitários, trabalhadores, grupos vulneráveis e população em geral.
Em 2016 esta mesma entidade fez uma avaliação das ações entretanto desenvolvidas e atualizou as áreas de atuação criando mais duas, as crianças da educação pré-escolar e empreendedores, empresários e gestores de micro, pequenas e médias empresas.
É assim que, desde 2013 existe um “Referencial para a Educação Financeira" que vem sendo colocado em prática no contexto da Educação para a Cidadania e sobre outras formas como a iniciativa “Todos Contam”.
Para além de documentos e iniciativas dirigidas a esta vertente formativa, o programa da disciplina de Matemática Aplicada às Ciências Sociais (MACS), bem como as Aprendizagens Essenciais da mesma disciplina incorporam um tema de Modelos Financieiros em que se propõe a abordagem a esta temática de forma explícita e integrada no currículo.
Podemos discutir se o estudo de juros, impostos, tarifários, orçamentos, empréstimos, créditos, opções de pagamento e outros conceitos que implicam um exercício da cidadania ativa e informada no contexto social do século XXI deve ser objeto de estudo transversal de diferentes unidades curriculares como a Economia, a Matemática, a Educação para a Cidadania, ou, em alternativa num espaço (e tempo) curricular específico.
Esta discussão surge no relatório “Financial Education Programmes In Schools” publicado em 2005:
“financial education can be integrated into more established subjects (such as mathematics and citizenship) as well as, or instead of, being delivered as a separate subject;” (p.6)
Serão poucos os que contestam o mérito de discutir na escola, com os alunos, as opções e as implicações relacionadas com decisões financeiras. Será menos consensual a opção por uma das vertentes apontadas - a integração curricular, por exemplo na disciplina de Matemática, ou a autonomização curricular com tempos e currículos próprios. Esta mesma abordagem está presente no sistema de ensino brasileiro, com defensores de ambas as vertentes, mas com um predomínio claro de uma integração forte na disciplina de Matemática.
Em Portugal, e no contexto do Ensino Secundário, esta opção terá sido tomada a partir de 2002, para os alunos das Ciências Sociais, fazendo esta abordagem de forma integrada no currículo de MACS, com um sucesso assinalável. Na falta de investigação ou estudos que possam sustentar este sucesso podemos recorrer à opinião de vários professores e alunos que atestam o mérito e a pertinência desta abordagem curricular para o desenvolvimento de competências matemáticas associadas ao conhecimento do contexto social, para além dos limites da escola…
Há no entanto investigação que foi desenvolvida no âmbito da integração da Educação Financeira na aula de matemática, partindo de tarefas específicas integradas nos conteúdos curriculares, que mostra uma boa interligação entre ambas as dimensões, com um ganho muito grande a favor do aumento da literacia financeira dos alunos ao mesmo tempo que aprendem os conceitos matemáticos em estudo.
Contudo esta abordagem bem sucedida só chega a uma pequena percentagem de alunos, de uma única vertente curricular e em regime de facultativo ou em situações em que os professores as privilegiam na sua aula.
Haverá ganhos em estender esta abordagem a todos os alunos? A nossa resposta é sim…Qual é a sua?
António Domingos (FCT NOVA)
Paulo Correia (AE Alcácer do Sal)
A minha resposta também é sim, mas isso não basta. Relativamente a muitos outros assuntos a minha resposta também seria sim, mas o tempo não é infinito e é necessário fazer escolhas, por isso, a questão é saber se a Educação Financeira é um tema prioritário que deveria ser incluído no currículo de matemática sabendo que ao escolher esse tema haverá outro que não será objeto de estudo. Aqui a minha resposta é, não sei, teria de olhar para a globalidade dos assuntos e perceber o que está a ser deixado de fora.
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